“Por um futuro mais humano”, dizem jovens das grotas sobre mundo pós-pandemia

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Em parceria com o Governo do Estado, intercâmbio virtual reuniu integrantes de projetos desenvolvidos pelo ONU-Habitat em Maceió, Rio de Janeiro e África Lusófona

Com direito a performance musical, leitura de poesia e até um animado “parabéns pra você”, o evento Conexão Maceió, Rio de Janeiro e África Lusófona para um Futuro Urbano Melhor – transmitido online na manhã da última quinta-feira (29) – se configurou como uma valiosa e instigante experiência de troca de percepções e saberes sobre a pandemia entre jovens representantes das localidades envolvidas em ações do ONU-Habitat.

Além de manifestar talentos e compartilhar vivências sobre os impactos urbanos e socioeconômicos da Covid-19, os participantes falaram sobre as expectativas para um futuro urbano pós-pandemia. “Quando penso em futuro, em sonhos, eu penso num futuro mais humano. Um futuro que tenha equidade – acesso à moradia, educação e saúde pública de qualidade”, discorreu Ewelyn Lourenço, moradora da grota Santa Helena, no bairro de Chã da Jaqueira, em Maceió.

A compositora Mary Alves, da grota do Ary, elaborou e leu um texto sobre a sua visão para a vida pós-Covid. “É urgente que outras narrativas como a minha e como as nossas sejam escolhidas. O futuro pós-pandemia é coletivo”, sentenciou, antes de empunhar o violão e tocar ao vivo uma canção de sua autoria. Já a colega de ofício artístico, Iolly Amancio, sonha que “todas as vidas tenham o mesmo valor. Que todos nós sejamos vistos e tratados como gente, como iguais”.

Para o angolano Gilberto Quissanga, “a pandemia só veio acentuar a nossa consciência”. “Todos os dias já estamos isolados socialmente com as mais variadas limitações possíveis. O que veio aumentar para nós é que devemos continuar a lutar. O que podemos mudar, primeiramente, é a consciência das pessoas em si. A conscientização de que a luta continua e nós, jovens que vivemos em comunidades, devemos continuar a se empoderar”, teorizou.

O intercâmbio virtual foi um dos momentos programados pelo Projeto Emergencial de Monitoramento da Covid-19 nas Grotas de Maceió – iniciativa realizada em parceria com o Governo de Alagoas. A atividade foi inserida na programação do Circuito Urbano 2020, agenda de eventos que promovem diálogos e conhecimentos sobre cidades no Brasil e em países da África Lusófona, como Moçambique e Angola.

Com mediação dividida entre Paula Zacarias, Analista de Programas do ONU-Habitat no escritório de Alagoas, e Elis Lopes, mobilizadora social do projeto desenvolvido em Maceió, o encontro reuniu quatro jovens de alagoanos, dois representantes do Rio de Janeiro, um de Maputo, capital do Moçambique, e outro de Luanda, capital da Angola.

Vários sotaques, mesmo idioma

Nos vários sotaques de um mesmo idioma, também aprendemos que a nossa grota leva o nome de “canisso” em Angola. Já no português de Moçambique, grota vira “musseque”. Do Rio de Janeiro, onde grota também pode ser morro, o ativista cultural Thiago de Paula foi o primeiro a se apresentar e a relatar sua vivência durante a pandemia.

Segundo explicou, a juventude das favelas do Rio de Janeiro estava em pleno processo de conquista social com a ocupação de espaços públicos. “A gente sempre batalhou para estar nesses lugares, para ocupar as ruas e as praças, que são lugares de inspiração e de troca de informações”, apontou. “Para mim, um dos impactos maiores foi a quebra da liberdade por conta de uma doença. Muita gente se viu nesse lugar de prisão”, assinalou o aniversariante do dia.

Também do Rio de Janeiro, a cantora e compositora Iolly Amancio falou de sua experiência como moradora da região conhecida como Baixada Fluminense. “Não existiu quarentena para muitos trabalhadores da arte e da cultura. É como se fosse uma prisão domiciliar: você só pode sair para trabalhar”, comparou. “A gente defende a ocupação do espaço público. É complexo explicar para as pessoas que elas não podem sair para se divertir, mas podem sair para trabalhar”.

Em Angola, além de encarar a apreensão provocada pelo vírus, o professor e ativista ambiental Gilberto Quissanga relatou situações semelhantes às que acometem os assentamentos informais do Brasil: a preocupação e as incertezas sobre a transmissão da Covid-19, a dificuldade em cumprir o isolamento social e a acentuação do desemprego.

Outro aspecto destacado pelo morador de Luanda foi o que ele chamou de “práticas menos abonatórias” por parte da juventude. “O consumo de álcool foi elevado nesse período porque as atividades foram quebradas, as escolas estavam fechadas e os serviços parados”, revelou. “Nesse momento estamos a voltar, com algumas restrições, mas os impactos ainda se fazem sentir, principalmente para os trabalhadores domésticos e as famílias que perderam os seus contratos de trabalho”, complementou.

Caso você não tenha assistido ao evento, basta acessar o link – https://www.youtube.com/watch?v=0D6LbuJN3Bs – no perfil do Circuito Urbano, no YouTube, para conferir. E para obter mais informações sobre o projeto desenvolvido pelo ONU-Habitat em parceria com o Governo de Alagoas nas grotas de Maceió, é só acessar o perfil @visaodasgrotas, no Instagram.

 

Fonte: Saúde Alagoas

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