Em 2020, CEAM realizou mais de 450 atendimentos às mulheres alagoanas

22
Com atendimento e acolhimento humanizados, o CEAM dispõe de um leque de serviços para a população feminina alagoana

“O terror psicológico é horrível. Parecia doer mais do que a violência física, pois fica se repetindo na sua mente o tempo todo. Não deixem que isso aconteça com vocês. Busquem socorro. Peçam ajuda aos seus familiares e amigos. É tudo muito difícil, mas, graças a Deus, hoje eu sou outra pessoa”.

O depoimento acima é da Dona Fátima*, maceioense de 52 anos que passou por um relacionamento conturbado que durou quase 15 anos. Sua história, como de muitas outras mulheres em situação de vulnerabilidade, começou com um casamento tranquilo, sem sinais de agressividade ou possessividade. Ela foi umas das mulheres atendidas em 2020 pelo Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM), da Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh).

“Nos primeiros anos era uma maravilha. Eu tinha meu emprego, era independente, cuidava das minhas coisas. Depois de uns 5 anos, ele começou a chegar em casa e me agredir psicologicamente, por eu ser mais nova que ele 10 anos. Passou a não me deixar trabalhar, nem sair de casa. Única saída era pra casa dos meus pais, mas quando chegava era briga. Tentei sair de casa mais de seis vezes, mas, no final, ele sempre me forçava a voltar. Na última tentativa, ele me bateu”.

Depois da primeira agressão física, Fátima passou a questionar sua dependência e o mal que aquele relacionamento estava fazendo para sua saúde, e, por fim, decidiu buscar ajuda.

“Depois disso não consegui mais ficar perto dele. Começava a suar, a ficar mal e chorava muito, lembrando de quando ele me bateu. Há um ano e seis meses acabou. Procurei auxílio psicológico e assim conheci o CEAM. Eu acho que ressuscitei. Na primeira separação cheguei a tentar suicídio, passei 10 dias em coma, e graças a Deus não foi a minha a hora”.

Fátima também participou de cursos profissionalizantes disponibilizados pelo CEAM, onde aprendeu a produzir laços e acessórios e conseguiu ganhar uma renda extra. “Peço força todos os dias para enfrentar tudo isso e diariamente estou trabalhando para superar. Com o auxílio das psicólogas que me atenderam no CEAM, me acolheram e me deram a maior força, hoje estou aqui para contar a história”.

CEAM

O Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM), da Semudh, foi inaugurado em 2013 e conta com uma equipe formada por profissionais, como assistente social, psicólogas e advogada.

O serviço realizado pela equipe multidisciplinar é continuado, onde a vítima dispõe de mecanismos que a auxiliam na sua proteção e na melhoria da qualidade de vida. A instituição também possui em sua estrutura a Central de Interpretação de Libras (CIL), que realiza acompanhamento e atendimento à população surda da capital, e a Patrulha Maria da Penha, que trabalha com a fiscalização do cumprimento das medidas protetivas de urgência.

“O CEAM realiza um trabalho excepcional na linha de frente da luta em busca da proteção da dignidade da mulher alagoana. Nossa equipe multidisciplinar está pronta para atender, de forma humanizada e profissional, toda e qualquer vítima de violência, seja ela sexual, psicológica, moral, física ou patrimonial, e ajudá-la a superar esse momento difícil”, afirmou a secretária da Semudh, Maria Silva.

Acolhimento e Atendimento Humanizado


Valéria, 52, também foi mais uma vítima de violência psicológica e patrimonial que contou com o auxílio da equipe do CEAM na busca de superação. Após mais de 8 anos presa em uma relação abusiva, procurou uma saída junto com amigos e familiares próximos.

“Me indicaram entrar em contato com a Defensoria. Mesmo com a pandemia, recebi toda a assistência, pelo whatsapp, tudo on-line. Me perguntaram se eu precisava de uma defensora e de atendimento psicológico, e aceitei. Foi quando conheci Goretti, a psicóloga do CEAM, que mesmo sem me ver pessoalmente me deu o apoio e toda a orientação que eu precisava”, conta Valéria.

Através do atendimento on-line, Valéria foi direcionada a conhecer a estrutura e os serviços do CEAM. “Eu não conhecia a casa, lá na Jatiúca. Quando eu entrei, pra minha surpresa, a minha reação foi: Meu Deus, como eu gostaria de ter encontrado isso antes! Eu me senti segura e disse agora eu tenho uma obrigação comigo mesma de buscar justiça. Eu fui muito bem recebida da recepção até a realização do B.O. Tinha tudo o que eu estava precisando. Me deram força e coragem e me disseram: aqui é o seu lugar. Sabe o alívio? Meu Deus, como eu fiquei feliz. Eu estava sentindo alegria por ter alguém me ajudando a superar tudo o que eu passei”, disse, emocionada.

Valéria continua participando do acompanhamento psicológico através do CEAM, iniciado em maio deste ano. “Não é fácil. Eu estava com a minha vida perdida. Hoje, consigo contar a minha história graças a essas mulheres que me aceitaram, me acolheram e me fizeram enxergar que também posso ajudar outras mulheres da mesma forma que fui ajudada. Eu precisava viver pra mim. Hoje sei que sou corajosa, sou batalhadora, sou forte e vou vencer. Se eu não tivesse conhecido esse grupo de mulheres defensoras dos nossos direitos, eu não estaria aqui. E, por isso, agradeço a todas pelo trabalho maravilhoso que realizam, em mostrar a verdade e nos guiar para o caminho da justiça e da paz, com dignidade. Hoje eu sou a mulher que eu sempre quis ser, e vou continuar sendo”.

Sala Lilás

Uma das inovações do CEAM em 2020 foi a criação da Sala Lilás para atendimento às vítimas de violência doméstica e familiar. Desde sua inauguração, no mês de agosto, já foram acolhidas 74 alagoanas.

No total, de janeiro a novembro, foram realizados 176 atendimentos psicológicos, 52 de assistência social, 90 acompanhamentos jurídicos e 98 redirecionamentos para órgãos parceiros, como a Defensoria Pública, o Hospital da Mulher, IML ou solicitações de medidas protetivas para as vítimas.

“Acreditamos que a integração dos serviços de proteção da mulher em nosso Estado é essencial para o fortalecimento da Rede de Atendimento à Vítima de Violência, proporcionando mais segurança para toda a população feminina”, reforçou a superintendente de Políticas para a Mulher da Semudh, Dilma Pinheiro.

Registro de B.O no local

Devido ao cenário da pandemia da Covid-19, a Semudh buscou novas formas de facilitar o atendimento às vítimas de violência doméstica e familiar. Em uma parceria com a Secretaria de Estado da Segurança Pública – SSP, por meio da Polícia Civil de Alagoas, foi instaurado o serviço de registro de boletim de ocorrência dentro do CEAM, para os casos de violência doméstica.

Desde o seu lançamento, que aconteceu na abertura da Campanha Agosto Lilás 2020, já foram realizados 38 boletins de ocorrência na Sala Lilás da instituição. A parceria foi firmada pela secretária Maria Silva com o delegado-geral, Paulo Cerqueira e a delegada, Bárbara Arraes, Gerente da Região Metropolitana (GPJM), ambos da Polícia Civil.

A iniciativa busca melhor atendimento da população feminina em um ambiente voltado para sua proteção, evitando constrangimentos, onde o B.O. é realizado com o auxílio de uma policial civil presente no local.

Contato e Denúncias

Os atendimentos e serviços disponibilizados pelo Centro Especializado de Atendimento à Mulher – CEAM e pela Central de Interpretação de Libras – CIL, ambos situados à rua Dr. Augusto Cardoso, s/n. no bairro da Jatiúca, continuam em funcionamento. Qualquer dúvida pode ser sanada por contato pelo telefone (82) 3315-1740 ou e-mail central.mdhal@gmail.com.

Casos de violência doméstica também podem ser denunciados diretamente pelo Disque 180 da Central de Atendimento à Mulher do Governo Federal. Em caso de flagrante, a Polícia Militar – PM fará o atendimento pelo 190.

*Nomes fictícios para proteger as identidades das entrevistadas

Fonte: Saúde Alagoas

COMPARTILHAR