Quilombolas realizam sonho de conhecer o mar em ação apoiada pela Prefeitura

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Elas moram na comunidade Lagoa do Algodão, em Carneiros, e desde a infância almejavam tomar um banho de praia

O 15 de dezembro de 2021 ficará guardado na memória como um dos dias mais felizes da vida de 40 mulheres quilombolas da Comunidade Lagoa do Algodão, na zona rural do município de Carneiros, no Sertão de Alagoas. Graças ao apoio da Prefeitura de Maceió, elas realizaram um sonho de infância: conhecer o mar. A ação desta quarta-feira integrava o projeto Ébá Ókun – O Sertão vai ver o mar.

Fotos: Itawi Albuquerque

De tão ansiosas que estavam, elas admitiram que nem conseguiram dormir na última noite. Sequer acreditavam que iriam pisar na areia e dar um mergulho na praia pela primeira vez. No rosto de cada uma, por tocar nas águas quentinhas, era possível perceber a alegria e a empolgação.

Quando chegaram à orla, foram logo recepcionadas por uma equipe do Gabinete de Políticas Públicas para Mulheres e da Secretaria Municipal de Governo. Receberam um kit de higiene pessoal, uma garrafa personalizada da Secretaria Municipal de Turismo, ouviram instruções sobre violência doméstica e puderam se amparar em uma tenda montada pela gestão exclusivamente para atendê-las. O almoço também foi ofertado pelo Município.

Maria Jaci da Conceição tem 75 anos e era uma das que se emocionaram por realizar o sonho. “Foi bom demais conhecer o mar. Tenho esta idade e nunca tinha pisado nem na areia da praia. Lavei os meus pés e gostei muito. Só não tomei banho porque tenho medo da água”, contou a quilombola.

Maria Isabel dos Santos relatou que só vinha a Maceió para resolver algumas pendências. Até agora, aos 30 anos, só tinha tido a oportunidade de ver o mar pela janela do transporte coletivo. “Achei uma maravilha. Nunca tinha vindo a Maceió a passeio, só para consultas médicas e, hoje, realizei o meu sonho de conhecer a praia de Pajuçara. Agradeço imensamente a prefeitura, que nos proporcionou esta experiência tão marcante”.

O estado de êxtase também foi sentido pela quilombola Valdice Nunes dos Santos. Aos 56 anos, revela que nunca teve dinheiro para tirar um dia de lazer na praia e confirma que este foi o momento mais feliz de sua vida. “Estava muito ansiosa para chegar este momento. Agradeço a Deus e a todos que me fizeram realizar este sonho de tanto tempo”, destacou.

Fotos: Itawi Albuquerque

Presidente do coletivo cultural Quilombo de Saias e Luta, formado pelas mulheres da comunidade em Carneiros, Ana Kelly Damasceno classificou o dia como inesquecível, inclusive para ela. “Desde quando soubemos que iríamos participar desta atividade foi difícil dormir. A expectativa e a ansiedade eram muito grandes”, contou.

O assessor de Políticas Sociais da Secretaria Municipal de Governo, Fábio Rogério, avalia a ação como única, desde o planejamento. Ele diz que a prefeitura foi procurada pelo Instituto Raízes de Áfricas e, de pronto, decidiu apoiar a iniciativa por entender a necessidade de materializar as políticas públicas e garantir uma manhã inesquecível a estas mulheres quilombolas.

“Ficamos emocionados e não tinha como não se envolver com esta situação. Nenhuma daquelas mulheres conhecia o mar e isso nos tocou bastante. A Prefeitura de Maceió não tinha como não apoiar uma causa tão nobre”, descreveu.

“Para muitos, pode parecer absurdo alguém nunca ter visto o mar, mas essa realidade está mais próxima do que imaginamos. E é esse o compromisso dessa gestão, realizar sonhos, garantir dignidade e valorizar nossa gente. Hoje, entregamos kits com produtos de higiene, justamente nesse sentido. As mulheres de Maceió agora têm alguém que olhe por elas”, assentiu Ana Paula Mendes, coordenadora do Gabinete de Políticas para Mulheres.

A coordenadora do Instituto Raízes de Áfricas, Arísia Barros, disse estar sentindo um misto de sentimentos após a ação ter acontecido. “Foi importante, mas cruel porque mostra a desigualdade. São mulheres que moram em Alagoas e não têm direito ao lazer, de conhecer o mar em um estado que tem a orla mais bonita do Brasil. Essa desigualdade afasta as pessoas e o direito ao lazer é garantido na Constituição. Ações assim trabalham a autoestima e a saúde mental dessas mulheres. Quem dera que todos os fins de semana elas pudessem ter atividades assim”.

Thiago Gomes/Secom Maceió

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